quinta-feira, 30 de abril de 2009

Um rio de fé desceu a rua

No dia em que o Papa veio a Luanda, 21 de Março.

Apenas uma pequena parte, pois o rio foi fluindo durante um longo período de tempo...

Uma justa homenagem




Longe vai o tempo em que conheci João André, mais conhecido entre amigos por Bidu.


Dos primeiros colegas de escola, na primária. Daqueles que se fazem facilmente, mas que a vida se encarrega de separar. Ora durante 4 anos fomos colegas, sendo que depois da primária perdi João André de vista. Mais tarde, já no Secundário, voltámos a encontrar-nos, volvidos 5 anos. Claro que o trato não era o mesmo, mas rapidamente se regenerou a amizade. Por mais três anos fomos colegas de turma. Desde então partilhámos momentos inesquecíveis. Na faculdade, uma vez mais nos encontrámos, entre a minha Gestão e a tua Economia, apadrinhaste a minha entrada. Merece justa homenagem este senhor. Dia 22 de Março tive o privilégio de festejar o seu aniversário… em Luanda. Para onde a vida me trouxe e onde vi encontrar João, por aqui há já quase três anos. Longe do nosso país, é bom contar contigo. Um abraço e até logo.

Dicionário

Bala – óptimo; impecável

Bazar – saída nocturna, encontro, “vamos bazar amanhã?”

Caçula – filho mais novo

Camba – colega, conecido, amigo.

Candongueiro – taxistas sem quaisquer preocupações com a condução, conduzindo geralmente uma carrinha azul e branca

Cuca – cerveja angolana

Eka – concorrente da cuca

Facilitar – “vou-te facilitar”: aceder a um pedido (de mais uma bebida que não cabia no cartão de consumo, por exemplo)

Gandulagem – assaltantes, …

Maka – problema, situação complicada

Mata-bicho – vulgo pequeno almoço

Matumbina – fêmea por excelência

Mosquitos – motociclistas sem preocupações e cuja condução não se enquadra nas regras (ex. circulação em sentido contrário)

Musseque – bairro pobre, feito sobretudo de barracas

Ninjas – nova policia especial que se desloca em motos….

Pula – branco

Recarga – cartão de carregamento do saldo de telemóvel (serve para realizar uma chamada para o número de recargas, referindo depois o código que vem no cartão, e já está, simples. Nota: só se vendem em algumas lojas)

Tchilar - curtir

segunda-feira, 27 de abril de 2009

...demasiado tempo

Foi demasiado tempo. Muito trabalho e pouca predisposição, alguma preguiça, outras vezes sem acesso a internet, e um blogue a perder vida…

Entretanto lia blogues de outros contactos, C13, de amigos e familiares, e este por aqui perdido. Mas não de todo, a preguiça atingiu-me a ponta dos dedos mas não a cabeça. Essa continuou em trabalho, daí que, neste entretanto, muitas ideias foram apontadas, havendo histórias para contar, peripécias, imagens para partilhar, um pouco disto e daquilo.

Mais vida. Uma catrefada de textos para breve…

quarta-feira, 8 de abril de 2009

um grande beijo

A ausência faz-se sentir.

Um apertozinho no coração… Foram anos e muitos mais serão. Mimado. Cuidado e tratado, sem que nada faltasse. Embirrei, respondi, outras tantas nem respondi, calei e fiz silêncio, não te contei, não falei… A distância trouxe-me para a terra onde nasceste, há precisamente 50 anos. Meio século de vida, do qual pude compartilhar mais de metade, mais do que compartilhar eu recebi. Recebi todo o teu carinho. Agora, pela primeira vez tão longe, não posso dar o abraço que não dei, o beijo que mereces, retribuir tudo o que deste. Mas quero dizer obrigado. Quero que fique registado. Muitos PARABÉNS mãe. Adoro-te! Um grande beijo

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Nova Era

Dia 1 de Abril de 2009, Luanda.

Entrada em vigor do novo código, nascimento de uma nova era.

Caos. A melhor palavra para descrever o que ocorre pelas vias de Luanda. Carros que se apertam, motas que se desviam, carrinhas que não param. Caos total. A polícia por vezes tenta dar uma ajuda. Polícia sinaleiro, manda seguir, dá ordem para parar, tenta organizar, mas não é fácil… menos ainda quando o polícia não quer perder a oportunidade de multar ou cobrar uma gasosa, e aí, bem, aí o trânsito que se amanhe…

Mas dia 1 de Abril a cidade de Luanda acordou com menos sangue a fervilhar pelas suas veias, isto é, menos carros a apertarem-se pela via. O novo código retirou muitos de circulação. Teria que ser assim, senão vejamos: cinto – passa a ser obrigatório; telemóvel – não é permitido o seu uso a conduzir; seguro de viatura – passa a obrigatório (não, não era obrigatório); conduzir alcoolizado – de 0 a 0,6 (ou 0,8, que se entendam) dá direito a multa, a partir daí é crime.
Ora novo código, novas oportunidades para a polícia fazer dinheiro, perdão, multar.

Tal facto retirou muitos condutores da cidade, receosos das consequências, tantos sem cintos nos carros, outros tantos, sem seguro, alguns embriagados, alguns com tudo à mistura…

Hoje trabalho no edifício novo da Sonangol, perto da marginal. Numa pausa tomo café na pastelaria Mensagem, do outro lado da estrada. À saída, ainda antes de atravessar a rua, paro por um instante junto ao passeio. Gosto de observar, parar e olhar, simplesmente ficar a olhar. Noutro lugar, numa outra terra, outro país, paro para observar. Vejo hábitos e costumes, pessoas a passar, vendedores de rua, mulheres com crianças nas costas, presas por um lenço, cestas à cabeça, outras vendedoras de cartões de recarga sentadas ao longo do passeio. Mas agora, aqui, junto à pastelaria Mensagem, no dia em que o novo código entrou em vigor, uma outra personagem chama a minha atenção. No meio do cruzamento. Um polícia vestido a rigor, traje azul, calçando luva branca, usa de um outro código – de linguagem gestual. Entre vias, meio de lado, os gestos seguem-se uns atrás dos outros. Braço esquerdo esticado mandando parar os carros de uma via, mão direita por cima do chapéu, parece dizer adeus a quem passa por trás, mas cede é passagem a quem vem de frente. Roda o braço esticado e junta-o ao estômago, meia volta, apito na boca, fazendo-se ouvir. A outra mão deixa de dizer adeus, abre-se por completo, o braço estende-se, agora pára outro sentido. Se a farda fosse outra, diria que estávamos na presença de um mimo, usando de linguagem gestual, comunicando emoções. Certamente o polícia também o faz, hoje é um novo dia, hoje ele é mais importante, com o novo código ganha uma nova dimensão. É senhor das estradas. No meio dos gestos, há um que escapa a toda a harmonia. Leva a mão ao bolso, pega na caneta, cede-a a um colega de profissão. Esse outro agradecido, já tem como passar multa. Regressa a sinfonia, um apito que assume diferentes tons, acompanha os movimentos. O trânsito vai fluindo. Menos buzinas. Não que não haja trânsito, ainda há trânsito. Mas está melhor, bem melhor. Já no final do dia, chego a casa mais depressa. Menos pára arranca, menos solavancos, mais qualidade de vida. Mais tempo para descansar. É cedo, cedo para dizer se esta realidade se irá manter. Esperemos que assim seja. A ser assim, assisti ao nascimento de uma nova era – uma Luanda mais calma, menos caótica.

Não, não é uma mentira.