Dia 1 de Abril de 2009, Luanda.
Entrada em vigor do novo código, nascimento de uma nova era.
Caos. A melhor palavra para descrever o que ocorre pelas vias de Luanda. Carros que se apertam, motas que se desviam, carrinhas que não param. Caos total. A polícia por vezes tenta dar uma ajuda. Polícia sinaleiro, manda seguir, dá ordem para parar, tenta organizar, mas não é fácil… menos ainda quando o polícia não quer perder a oportunidade de multar ou cobrar uma gasosa, e aí, bem, aí o trânsito que se amanhe…
Mas dia 1 de Abril a cidade de Luanda acordou com menos sangue a fervilhar pelas suas veias, isto é, menos carros a apertarem-se pela via. O novo código retirou muitos de circulação. Teria que ser assim, senão vejamos: cinto – passa a ser obrigatório; telemóvel – não é permitido o seu uso a conduzir; seguro de viatura – passa a obrigatório (não, não era obrigatório); conduzir alcoolizado – de 0 a 0,6 (ou 0,8, que se entendam) dá direito a multa, a partir daí é crime.
Ora novo código, novas oportunidades para a polícia fazer dinheiro, perdão, multar.
Tal facto retirou muitos condutores da cidade, receosos das consequências, tantos sem cintos nos carros, outros tantos, sem seguro, alguns embriagados, alguns com tudo à mistura…
Hoje trabalho no edifício novo da Sonangol, perto da marginal. Numa pausa tomo café na pastelaria Mensagem, do outro lado da estrada. À saída, ainda antes de atravessar a rua, paro por um instante junto ao passeio. Gosto de observar, parar e olhar, simplesmente ficar a olhar. Noutro lugar, numa outra terra, outro país, paro para observar. Vejo hábitos e costumes, pessoas a passar, vendedores de rua, mulheres com crianças nas costas, presas por um lenço, cestas à cabeça, outras vendedoras de cartões de recarga sentadas ao longo do passeio. Mas agora, aqui, junto à pastelaria Mensagem, no dia em que o novo código entrou em vigor, uma outra personagem chama a minha atenção. No meio do cruzamento. Um polícia vestido a rigor, traje azul, calçando luva branca, usa de um outro código – de linguagem gestual. Entre vias, meio de lado, os gestos seguem-se uns atrás dos outros. Braço esquerdo esticado mandando parar os carros de uma via, mão direita por cima do chapéu, parece dizer adeus a quem passa por trás, mas cede é passagem a quem vem de frente. Roda o braço esticado e junta-o ao estômago, meia volta, apito na boca, fazendo-se ouvir. A outra mão deixa de dizer adeus, abre-se por completo, o braço estende-se, agora pára outro sentido. Se a farda fosse outra, diria que estávamos na presença de um mimo, usando de linguagem gestual, comunicando emoções. Certamente o polícia também o faz, hoje é um novo dia, hoje ele é mais importante, com o novo código ganha uma nova dimensão. É senhor das estradas. No meio dos gestos, há um que escapa a toda a harmonia. Leva a mão ao bolso, pega na caneta, cede-a a um colega de profissão. Esse outro agradecido, já tem como passar multa. Regressa a sinfonia, um apito que assume diferentes tons, acompanha os movimentos. O trânsito vai fluindo. Menos buzinas. Não que não haja trânsito, ainda há trânsito. Mas está melhor, bem melhor. Já no final do dia, chego a casa mais depressa. Menos pára arranca, menos solavancos, mais qualidade de vida. Mais tempo para descansar. É cedo, cedo para dizer se esta realidade se irá manter. Esperemos que assim seja. A ser assim, assisti ao nascimento de uma nova era – uma Luanda mais calma, menos caótica.
Não, não é uma mentira.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Que bom.. Luanda a mudar....
ResponderEliminarMas esse sinaleiro faz mesmo lembrar a minha infância,com o meu pai a ir buscar-me ao Colégio S. José de Cluny, que agora não sei o que é...e o raio do sinaleiro, parecia um boneco sempre muito compenetrado..